segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Com licença poética


Quando nasci,
um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.


Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, filha do ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa. "Moça feita, li Drummond a primeira vez em prosa. Muitos anos mais tarde, Guimarães Rosa, Clarisse. Esta é a minha turma, pensei. Gostam do que eu gosto. Minha felicidade foi imensa.Continuava a escrever, mas enfadara-me do meu próprio tom, haurido de fontes que não a minha. Até que um dia, propriamente após a morte do meu pai, começo a escrever torrencialmente e percebo uma fala minha, diversa da dos autores que amava. É isto, é a minha fala."

8 comentários:

  1. Adélia Prado e sua envolvente poesia!!! =))
    Há algo nos versos dessa poeta que encanta, que envolve!!
    Parabéns!!

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  2. Oi Cris...menina esses dias que fiquei afastada, foram dias de tortura...rsrsrs. Como esse negócio de blog vicia, estava doidinha para visitar os blogs novamente.

    Cris só passei mesmo para deixar um GRANDE BEIJO!

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  3. Com certeza a Mulher é desdobravel.
    Todas somos.

    Vi sua inscrição e vim para conferirr...
    Já estamos no blog uma interação de amigos com a participação na blogagem Coletiva de Abra Aspas.
    http://sandrarandrade7.blogspot.com/
    Te espero lá para comemorar este momento do amor!!!
    Ele está no ar, no coração e na Vida.

    Que todos tenham hoje um momento cheio de amor e paz.
    E viva esta momento poético.
    Sandra

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  4. Que maravilha encontrar Adélia Prado e seus versos intensos, femininos e que nos lembram que a simplicidade tem a sua complexidade, mas é preciso acima de tudo e qualquer coisa observar as nossas arestas sem medo para poder edificar o ser, aquilo que somos.
    Deliciosa sua participação. Bjs

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  5. Eu gosto muito! Mais uma fala de Adélia que gosto:

    Minha alma é um bolso onde guardo minhas memórias vivas. Memórias vivas são aquelas que continuam presentes no corpo. Uma vez lembradas, o corpo ri, chora, comove-se, dança…

    “O que a memória amou fica eterno”.

    Beijus,

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  6. Adélia consegue falar de forma simples, sensível e intensa do feminino. E vamos nós nos desdobrando, buscando sempre nossa "a vontade de alegria."

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  7. Vim retribuir o seu carinho no blog. Gostei muito de sua presença lá.
    Uma interação de amigos agradeçe.
    Volte sempre.
    Sandra

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  8. Mulher... Nós somos muitas em uma só(rs)sempre nos desdobrando da melhor forma que achamos conveniente. Sempre...
    Beijitos

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